sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O Que Não Fui


Retirei estas passagens da obra A Praça do Diabo Divino, do escritor Guido Viaro. O que resulta dessa junção de pensamentos é a descrição fidedígna de parte do que sou. Me utilizo das sábias palavras desse perspicaz escritor para explicitar os obstáculos que minha timidez e o meu receio de me expressar me causam, limitando o meu contato social. Controlar a minha timidez excessivaé um desafio.

"Se é difícil dizer o que eu fui, é muito fácil definir o que não fui. Não fui tanta coisa que não sei nem por onde começar; mas se tivesse de escolher o que, de tudo, menos fui, diria que não fui um falador. Minha boca mexeu-se muito mais para mastigar do que falar. De tudo o que pensei, a maior parte escreví e quase nada falei, e muita coisa que pensei acabou perdendo-se nos buracos da memória.

Mas o que mais me faltou foi verbalizar palavras, conversar com os outros, escutar as suas histórias e esperar a vez de contar as minhas. Desperdiçar palavras deixando que a linguagem construisse caminhos inúteis, que um dia somariam as suas inutilidades formando teias que poderia servir a mim ou a outros. Deixar as palavras ecoarem, combaterem-se...Faltou-me o bate-boca, o xingamento, o elogio, o comentário fútil, o grito de revolta, o som cortando o silêncio, mistura das letras saídas do cérebro, transportando pelas cordas vocais e derramando ao mundo.

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